terça-feira, 11 de maio de 2010
Exposição “Mitômana”, de Marina de Botas, apresenta três vídeos que habitam o universo fantástico
O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108) abre a exposição “Mitômana”, da artista visual Marina Botas, nesta quinta-feira, 13, às 18 horas. Gratuita ao público, a mostra ficará em cartaz até o próximo dia 04 de junho (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; aos domingos, de 10h às 18h).
Mitômana (texto de Simone Barreto)
Nessa exposição, Marina de Botas apresenta três exercícios de mitomania. Três narrativas em vídeo que habitam um universo tão fantástico que só existem na ficção e na não-realidade. Mas se por hora ela os faz existir, ainda que amparados nos dispositivos tecnológicos, resta-nos adentrar nesse universo e tornarmo-nos cúmplices da sua mentira.
Dessa tecnologia façamos ainda uma ressalva. Os equipamentos que são suportes para a apresentação dos vídeos estavam em desuso. Uma das televisões foi encontrada no lixo. Defasadas, elas são low-technology, lixo da produção exagerada de tecnologias.
Esse desuso interessa a Marina. Nele, ela observa camadas de memória do objeto. É assim com todo o mobiliário da exposição, que induz o visitante à situação-casa. Que pode ser descrito como o momento onde tudo fica reconhecível: os objetos, as cores, o cheiro e as sensações.
Marina de Botas investiga os interstícios da linguagem. Sua proposição é criar nesse ambiente pedaços de casa, salas, antessalas, pedaços de muitas casas que formam uma. E é nessa casa que estão os vídeos apresentados na exposição.
O primeiro vídeo, chamado Baby doll ou A jóia do universo, mostra um primeiro plano amontoado de brinquedos, ursinhos de pelúcia, robôs de plásticos articulados, empilhados no meio deles sua filha de dez anos. Descoberta entre os brinquedos, Marina vai vestindo-a, enchendo-a de camadas de roupas, tornando-a maior. Trocando sua pele, sua idade talvez... Suas roupas passam por meias-calças, vestidinhos de princesa, passam pelo vermelho adolescente, o colorido pop do Ben 10, até chegar ao preto absoluto e silencioso. O ritual segue quieto e minucioso para os cabelos onde pequeníssimos enfeites são arquitetados em sua fronte, assemelhando-se a uma coroa. Em seguida as unhas/dedos, então o rosto é cuidadosamente pintado de azul. É possível que ela tenha nesse instante se tornado o jovem e colorido Krishna, azul escuro da cor da nuvem antes da chuva.
O reandrógino nasce de uma citação de um poema de Roberto Piva – Antropolítica da entrega em profundidade – que finda com o seguinte verso: “Coxas Ardentes que só terá descanso quando estiver nos braços do Andrógino Antropocósmico”. É esse descanso que no vídeo a personagem procura em seu andrógino antropocósmico. Unindo-se a ele e tornando-se um só em diferentes condições. No áudio, ouvimos Marina cantar uma canção do Roberto Carlos.
Centauro trata da saga de alguns indivíduos da cidade. Com hábitos urbanos, eles constroem casas, vivem o cotidiano regular e rotineiro de todo habitante das cidades. Peculiaridades são observadas em seus corpos: cadeiras fazem parte deles. Mas a inadequação a esse ambiente faz com que muitos desses centauros se rebelem e fujam para uma floresta. Lá eles poderão desenvolver novos hábitos de reprodução, alimentação... Tornam-se seres contemplativos e audazes. A cidade só se vê ao longe.
Mitômana nos toma de esguelha. Podemos ter dúvida da possibilidade daquelas imagens, mas como duvidar se nos reconhecemos naqueles argumentos/sentimentos? Não é tudo mentira nem é tudo ilusão.
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